Quando comecei a escrever este artigo, fiquei um tempo procurando qual seria a melhor definição para o termo “economia solidária”. Pesquisei muitas páginas na internet e falei com algumas pessoas que trabalham dentro dessa área. Cada pessoa que tive o prazer de interpelar me deu uma visão do que seria a economia solidária, e no final todas tinham o mesmo objetivo: a valorização do ser humano dentro de um processo de democratização econômica.
As instituições que trabalham com economia solidária devem definir políticas e estratégias, destinadas a conseguir um efeito maior com o mínimo de desgaste - as mudanças não têm ocorrido rapidamente apenas no mundo tecnológico, mas também dentro do contexto local e do convívio social, de maneira que os conhecimentos de ontem já não são suficientes para responder às novas realidades.
Atuar num mundo cada vez mais “interconectado” requer conhecimentos diversos e maiores que dificilmente podem ser adquiridos somente através da experiência local, e é neste sentido que a internet aparece como um recurso maravilhoso, por sua capacidade de ampliar e dar velocidade ao intercâmbio de informações.
Tendo a internet como uma ferramenta atualmente essencial, o caminho para o fortalecimento das organizações é o trabalho colaborativo em conjunto – um trabalho em rede, fortalecendo-se mutuamente. Não é inovador ter uma rede desse tipo – já existem várias redes de organizações ligadas a economia solidária – porém o desafio é fazer com que essas redes sejam, efetivamente, eficientes. Para que sejam eficientes, é necessário que haja comunicação e participação entre os atores envolvidos.
Dentro de uma rede, a comunicação é um elemento que deve estar presente em sua estrutura e em seus programas de formação. A participação em encontros e oficinas, mesmo à distância, se apresenta como um dos fatores mais importantes para a assimilação e o desenvolvimento conjunto de novos conhecimentos.
As trocas de informações que se implementam nas redes de organizações não só propiciam a abertura de novas temáticas e problemáticas diferentes como também contribuem para a consolidação do entendimento que cada integrante tem elaborado a partir de sua própria realidade. Nestes processos de troca, cada organização pode verificar que seus problemas são comuns às demais e aprender com outras abordagens e experiências, de tal modo que esses conhecimentos, a partir de uma realidade próxima, são assimilados com uma visão mais universal.
A criação de uma “cultura” da disseminação de informação é gradual. É um processo longo, pois iniciar um trabalho em rede também está muito ligado à situação e ao meio em que a organização vive, sua trajetória e seus propósitos – principalmente se falamos de trabalhar em rede usando a internet, pois o acesso ainda é um grande problema.
Para fortalecer a economia solidária, precisamos trabalhar em rede. Para fortalecer a rede, precisamos nos comunicar. Para facilitar a comunicação, termos acesso a informações diversas e melhorar a comercialização de produtos da rede, precisamos ter acesso às tecnologias de informação e comunicação, e friso, nesse caso, a internet como ferramenta de uso múltiplo. O acesso trará mais desenvolvimento ao território e as pessoas que nele vivem. Segundo Franklin Coelho, em seu livro “Desenvolvimento local e construção social - o território como sujeito”, considera-se o “desenvolvimento econômico local como a constituição de uma ambiência produtiva inovadora, na qual se desenvolvem e se institucionalizam formas de cooperação e integração das cadeias produtivas e das redes econômicas e sociais, de tal modo que amplie as oportunidades locais, gere trabalho e renda, atraia novos negócios e crie condições para um desenvolvimento humano sustentável”.
A participação em redes, para muitas organizações, é o que as motiva a compartilhar sua informação e experiência com outras. Esse intercâmbio de informações também faz que aquele que envia valorize mais seu próprio conhecimento e a possibilidade de expô-lo. A percepção da importância da comunicação tem crescido e algumas organizações estão descobrindo as diversas dimensões e possibilidades de uma rede, entre elas seu papel nas relações humanas e organizacionais, tanto internas quanto externas.
Segundo Pierre Lévy em seu livro “A inteligência coletiva. Por uma antropologia do ciberespaço”, as ”proposições de um ciberespaço e da criação de comunidades virtuais são respostas aos limites organizacionais de uma realidade complexificada com a globalização e seus efeitos negativos e positivos”. Com a internet, o intercâmbio de informações tradicional do “um-para-vários” é mudado para o “muitos-para-muitos”. A relação torna-se multidirecional, consolidando, assim, um processo de enriquecimento intelectual mútuo.
Claro que não se cria e se fortalece uma rede da noite para o dia – ainda existem alguns obstáculos como recursos humanos, recursos financeiros e, principalmente, tempo. Sustentar uma rede exige um esforço singular, e somente algumas organizações que já têm bem definida a necessidade da comunicação como um elemento essencial, conseguem dar continuidade. Cada qual, a partir de sua realidade, deve articular devidamente sua estratégia, para que possa atingir seus objetivos.
A motivação para que este intercâmbio de informações ocorra em uma rede depende, segundo Dalberto Adulis, diretor executivo da ABDL (http://www.abdl.org.br), da “percepção de que existam objetivos ou interesses compartilhados que possam ser alcançados através do processo de interação dos mesmos no âmbito da própria rede (networking)”. Para isso seria necessário, que os objetivos das instituições que têm a intenção de trabalhar em rede sejam favorecer a circulação e a troca de informações, o compartilhamento de experiências, a colaboração em ações e projetos, o aprendizado coletivo e inovador, o fortalecimento de laços entre os membros, a manutenção do espírito de comunidade e a ampliação do poder de pressão do grupo – seguindo, praticamente, as mesmas premissas que regem a economia solidária.
Viviane Amaral afirma em seu texto “Rede Brasileira de Educação Ambiental: 10 anos construindo relações cidadãs para uma sociedade sustentável”, que a “sustentabilidade da rede repousa e depende do interesse das pessoas em se comunicarem e compartilharem seus conhecimentos, seus anseios, seus objetivos”.
Para finalizar, temos então nesse artigo o delineamento do seguinte caminho: economia solidária, colaboração, trabalho em rede, fortalecimento, acesso às tecnologias de comunicação, uso social e solidário da internet, desenvolvimento local e sustentabilidade. Uma receita interessante que tem funcionado em algumas regiões e que pode ser um bom caminho a ser trilhado.
30.08.2007 | Por Carlos Antônio da Silva, exclusivo para Mosaico Social
FONTE: http://www.mosaicosocial.org/apc-aa-mosaicosocial/mosaicosocial/fulltext_all.shtml?vid=18&cmd[18]=i-18-41a9b094cdc43a3a99c540cf5d261402
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