Por que as comunicacoes e as artes estao convergindo?, Lucia Santaella
by doassis — Për herë të fundit modifikuar 18/09/2005 14:28
Fichamento para aula
Por que as comunicacoes e as artes estao convergindo? Lucia Santaella
Ed. Paulus - 2005
- Ciente da polemica em torno da aproximacao conceitual entre arte e comunicacoes, a autora abre o livro a partir do pressuposto de que nao pretende considerar arte apenas as “belas artes” (pintura, escultura, musica, poesia e arquitetura) e comunicacao apenas aquela dita “de massa”.
- A partir dai, Santaella divide a comunicacao em eras: da comunicacao oral, escrita, impressa, de massa, midiatica e digital. Sendo que as ultimas tres serao as que interessam para a analise que pretende fazer ao longo do livro.
- Outro pressuposto assumido pela pesquisadora e’ que os meios de comunicacao sao insperaveis do modo de producao de uma epoca. E ainda: que foi a partir da Revolucao Industrial que se deu a ruptura entre cultura erudita e a cultura popular (pois comecaram a ser criadas as maquinas de criacao simbolica como fotografia e a prensa)
- Como especificades dos meios de comunicacao de massa, a autora aponta para o fato de serem “interssemioticos”, ou seja, empregarem elementos de imagem, som, texto, design e interpretacao para favorecerem a comunicacao. Eles formam a base para o que chama de “cultura das midias”.
- Foi tambem apos a indutrializacao, com as vanguardas e o modernismo, que as artes passaram a incorporar dispostivos tecnologicos como meios para sua producao. E tambem para a sua divulgacao. O impacto dessa mesma divulgacao e consequente popularizacao da arte teria levado a criacao de novos museus, a injecao de recursos financeiros e finalmente a absorcao da arte pela cultura oficial.
- Quando se fala em artes digitais, o fato de elas se desenvolverem nos mesmos ambientes que servem as comunicacoes torna as fronteiras entre as duas ainda mais porosas.
Cap. 2, no qual Santaella trata dos atritos e afinidades entre a fotografia e a arte.
- A autora aponta para o ensaio de Walter Benjamin,para quem “a invencao da fotografia destrruiu a aura da obra de arte, seus rituais magicos e religiosos, mas nao destruiu a arte, apenas transformou seu carater geral” (bem como nossos modos de ver a arte).
- A questao, para ela, nao e’ ‘se a fotografia e’ uma arte, mas se a arte se tornou fotografica”.
- Alguns exemplos de artistas e movimentos sobre os quais a fotografia teve influencia: Degas, Duchamp (impressao de presenca), suprematismo russo, dadaismo, arte pop (reproducao), performance (como instrumento de registro, inicialmente)...
- Santaella divide a cultura das imagens em tres paradigmas: pre-fotografico, fotografico e pos-fotografico. Enquanto no fotografico se pressupoe uma maquina e um objeto preexiste a sua imagem, no pos-fotografico as imagens sao sinteticas, numericas, resultados da transformacao de uma matriz numerica em pixels numa tela. Ocorre a “quebra dos principios da indexacao da fotografia”, resultado de possibilidades de manipulacao, modelacao e edicao das imagens. A foto representa. O computador simula. Eis uma crise da aparencia semelhante a mencionada por Margot Lovejoy, no cap. 7 de Art in the Electronic Age.
- Cap. 3, do cinema como um dos primeiros exemplos da imbricacao entre artes, comunicacao de massa, industria, pesquisa cientifica... Santaella cita Eisenstein com exemplo de matematico, engenheiro e “artista tecnologico”. Para a autora, a arte do cinema teve relacoes diretas sobre outros campos de criacao artistica, como a literatura, que viu sua estrutura narrativa ser reformulada em resposta as novas linearidades (ou nao) do cinema. Alem disso, inlfuenciou a TV e por ela foi influenciada.
- Santaella acredita no entanto que o cinema proporciona um “tipo de criacao para a qual a entronizacao dos museus e galerias esta, de saida e para sempre, vedada” (p. 35). Sera? O que seriam entao os exemplos de hipercinema, cinema expandido, interativo etc.?
- No cap. 4, a autora trata dos efeitos da industrializacao cultural na arte. E tambem do efeito inverso.
- A partir dos anos 60, movimentos como a pop arte, miminalismo, land art, performance e instalacao colocaram em cheque a ideia de que arte e’ pintura ou escultura. Ao contrario, diziam que a arte nao e’ so’ conteudo, mas contexto (social e politico)
- Para a pop arte, os objetos nao sao mais a representacao da natureza, mas da realidade urbana. A arte torna-se metaarte, propondo relacoes ambiguas com a cultura de massas, ora celebrando o consumo e as estrelas da midia, ora analizando e criticando. Nao se trata de apropriacao, mas de traducao semiotica, recontextualizacao, defende a autora.
- Evolucao do discutido no capitulo anterior, no cap. 5, Santaella aponta para a relacao da publicidade com a arte pop. Se esta “canibalizou” a primeira, nada mais justo que a publicidade tome volta emprestados os estilos, os modos de composicao (know how) ou o prestigio da arte. Argumento polemico, mas deveras oportuno para as discussoes eticas de remix e Creative Commons, por exemplo. Se eu me julgo no direito de remixar o que bem entender, nao tenho o direito de impedir que, mesmo comercialmente, outros facam uso do que eu criar...
- Cap. 6: pos-modernismo na arte. A partir dos anos 70, decreta-se o fim dos movimentos sucessivos, erupcao de movimentos artisticos simultaneos, contraditorios, paradoxais. Anos 80, a estetica kitsch de Jeff Koons.
- Cap. 7: entra mais a fundo no impacto das tecnologias de comunicacao digital sobre a arte. Fala do surgimento da videoarte como resposta a popularizacao da TV nos anos 60. De que os artistas tendem a trabalhar com as ferramentas hi e low tech que estejam disponiveis a mao, como foi o caso das filmadoras.
- Outro aspecto importante para nortear as discussoes de hoje, ja’ naquela epoca artistas ‘se renderam” as TVs para usarem seus estudios e transmitir seus trabalhos. Argumenta que “para desenvolver critica e’ necessario participar televisualmente dessa sociedade”.
- A autora toca, ainda que de passsagem, em outro tema interessante: as distincoes entre a videoarte e os promos musiciais (videoclipes) sao muito tenues. Ainda assim (e aqui reflito eu), como nao consideram Chris Cunningham, Michel Gondry e Spike Jonze artistas?
- Dado importante: Santaella lembra que,apesar de trabalharem com novas tecnologias, nao foi grande a resistencia a incorporacao do video na arte. Possiveis motivos: o custo baixo de suporte e exibicao e o fato de alguns artistas ja’ serem conhecidos das instituicoes (o que nao e’ exatamente o caso de boa parte dos artistas digitais hoje).
- No cap. 8, a autora trata das artes interativas (ou digitais), situando-as no paradigma pos-fotografico da imagem. Com a computacao grafica, um artista nao manipula materiais, mas tecnologia (“eletrons que brilham numa tela”).
- A mudanca de paradigma sugere que um artista nao deve mais ser reconhecido por sua genialidade, mas por sua “engenhosidade” (p. 62)
-Por outro lado, e’ necessario separar a arte digital do campo do entretenimento hi-tech. A chave: arte nao e’ utilitaria, deve responder sempre e em primeiro lugar a ideia de seu criador.
- Para analisar propriamente esse novo cenario, a autora pensa que uma “nova estetica e critica sao necessarias”, e estas devem ser capazes de romper as barreiras entre ciencia e arte (e arte e comunicacao, claro).
FONTE : http://netart.incubadora.fapesp.br/portal/Members/doassis/santaella01
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