domingo, 7 de dezembro de 2008

FUNDAMENTOS BIOCOGNITIVOS DA COMUNICAÇÃO. APLICAÇÕES NOS PROCESSOS DE NAVEGAÇÃO NO CIBERESPAÇO. "SANTAELLA" - CNPQ

Projeto realizado de 1999 a 2001 sob os auspícios do CNPq

Os resultados do projeto constam do livro

Santaella, Lucia (2004). Navegar no ciberespaço: O perfil cognitivo do leitor imersivo. São Paulo: Paulus.


Apoio CNPq, ref.: 522903/96-7 (NV)

PROJETO INTEGRADO

Dra. Maria Lucia Santaella Braga



TÍTULO DO PROJETO:

FUNDAMENTOS BIOCOGNITIVOS DA COMUNICAÇÃO. APLICAÇÕES NOS PROCESSOS DE NAVEGAÇÃO NO CIBERESPAÇO.


EQUIPE DE PESQUISADORES

I. COORDENAÇÃO GERAL E ELABORAÇÃO DOS FUNDAMENTOS TEÓRICOS DO PROJETO: PROFA. DRA. MARIA LUCIA SANTAELLA BRAGA, PUCSP

II. SUB-COORDENAÇÃO E ELABORAÇÃO DOS CONCEITOS DE HIPERMÍDIA: PROF. DR. SÉRGIO BAIRON

III SUPERVISÃO TÉCNICA DO PROJETO: UM BOLSISTA DE APOIO TÉCNICO

III. ASSESSORIA À COORDENAÇÃO

IV. 3 BOLSISTAS DE APERFEIÇAMENTO

3 BOLSISTAS DE INICIAÇÃO



1. RESUMO DO PROJETO:



Tendo por objeto de estudo as redes comunicacionais da teleinfromática, este projeto parte da hipótese de que essas redes não se fazem mais entender sob um ponto de vista meramente tecnológico, exigindo, ao contrário, investigações situadas nas interfaces complexas da biologia com simulações computacionais e a interatividade cérebro e máquina. A partir do levantamento de alguns dos fundamentos bio-cognitivos da comunicação, este projeto visa estudar as transformações perceptivas-cognitivas implicadas nos processos de navegação no ciberespaço



2. ANTECEDENTES E CONTEXTO INSTITUCIONAL DO PROJETO



Em 1987, há quase dez anos, o programa de pós-graduação em Comunicação e Semiótica da PUCSP, naquela época um programa de pequeno porte, contando com cerca de 70 alunos de mestrado, e menos de uma dezena de doutorandos, deu início a um processo que, desde então, tem crescido e se sedimentado: a organização de grupos coletivos de pesquisa de grande porte capazes de romper com o individualismo e formalismo das velhas formas de produção acadêmica restritas a aulas, seminários, monografias, tudo isso se canalizando para a defesa de uma dissertação ou tese.



Sem negar a importância do trabalho intelectual individual, já naquele tempo, alguns dos professores e também alunos do programa, alimentados por discussões que a CAPES estava levantando, colocavam a necessidade de que um programa de pós-graduação fosse capaz de criar meios de intercâmbio, confronto e debate, especialmente meios de produção coletiva que fossem capazes de estimular, alimentar a pesquisa de cada um através de compromissos coletivamente assumidos e das trocas que um tal tipo de pesquisa traz.



Foi assim que nasceu em 1988, o projeto coletivo, Imagens técnicas: do mundo mecânico-industrial ao mundo eletrônico pós-industrial. Implicações estéticas, culturais e epistemológicas, sob coordenação de Lucia Santaella e Arlindo Machado. Aprovado pela FINEP, esse projeto trouxe ao programa um pequeno laboratório de computação gráfica, o primeiro a existir em uma universidade brasileira, no qual foram geradas também as primeiras pesquisas universitárias sobre computação gráfica, inclusive a primeira dissertação brasileira sobre computação gráfica, de autoria de Rejane Caetano Augusto, com orientação de Lucia Santaella, em 1989. O laboratório era pequeno, mas, sem dúvida, serviu como mola propulsora para uma nova dinâmica de pós-graduação que vem sendo implantada com sucesso cada vez maior no programa.



Tendo terminado o projeto da Finep, os mesmos coordenadores, mas agora acompanhados de novos professores e pesquisadores, deram início a um outro projeto temático, de maior porte e maior ambição, este dirigido à FAPESP, sob o título de Avanços tecnológicos e novas gramáticas da sonoridade: implicações estéticas, culturais e epistemológicas. Esse projeto trouxe ao programa um laboratório de música acústica de nível internacional que atraiu para a PUCSP pesquisadores em música eletro-acústica de qualidade.

Com a infraestrutura acima descrita e os grupos de pesquisa que dela tiram proveito para a realização de projetos coletivos, realizaram-se no programa os primeiros livros e trabalhos em CDROM produzidos em universidades brasileiras (Ensaios sobre a contemporaneidade, de Arlindo Machado, Eisenstein, multimídia, de Arlindo Machado e equipe, Mário de Andrade, de autoria de uma equipe de pesquisadores artistas e Mallarmé, também de uma equipe de pesquisadores artistas. Estão em progresso um livro de contos em CDROM, de autoria de Lucia Santaella, além de outros projetos em fase de elaboração. Foi também na Comunicação e Semiótica da PUCSP que foi defendida a primeira tese em CDROM do país, de autoria de Tania Fraga e orientação de Arlindo Machado, em maio de 1995.



O número de projetos sonoros já realizados e em realização no laboratório de som chega a algumas dezenas.



Enfim, já existe uma larga tradição no programa de COS para a realização de projetos de pesquisa sobre e com novas tecnologias, o que tem sido facilitado pela existência de laboratórios específicos para essas pesquisas, além de um grande número de pesquisadores dispostos para as tarefas de um trabalho colaborativo.



Estando o projeto integrado sobre multimídia, apoiado pelo CNPq, sob a coordenação de Lucia Santaella, em fase final de realização, conforme pode ser atestado pelo relatório parcial que foi entregue ao CNPq, temos agora condições de enfrentar um projeto de pesquisa um pouco mais complexo, na área das tecnologias da comunicação, respaldado em resultados obtidos e a partir de novas questões que foram surgindo no projeto anterior.



3. CONTEXTO GERAL E JUSTIFICATIVA DA PESQUISA



Nas palavras de Joël de Rosnay (1997: 29), estamos vivendo neste final de século um verdadeiro choque do futuro resultante sobretudo dos avanços das ciências físicas e biológicas. Enquanto a física e a eletrônica levaram ao desenvolvimento da informática e das técnicas de comunicação, a biologia levou à biotecnologia e à bioindústria. Estamos, sem dúvida, entrando numa revolução da informação e da comunicação sem precedentes que está desafiando nossos métodos tradicionais de análise e de ação.

No cerne dessas transformações, os computadores e as redes de comunicação passam por uma evolução acelerada, catalisada pela multimídia, hipermídia, a digitalização e a compressão dos dados. Alimentada com tais progressos, a internet, rede mundial das redes interconectadas, explode de maneira espontânea, caótica, superabundante. Nesse mesmo ambiente técnico e científico, emergem setores inquietantes, tais como a realidade virtual e a vida artificial.

Cérebros humanos, computadores e redes interconectadas de comunicação ampliam, a cada dia, um ciberespaço mundial no qual todo elemento de informação encontra-se em contato virtual com todos e com cada um, tudo isso convergindo para ‘a constituição de um novo meio de comunicação, de pensamento e de trabalho para as sociedades humanas’, enfim, de uma nova antropologia própria do ciberespaço (Lévy 1998: 12).

Segundo Lévy (ibid.: 13), a fusão das telecomunicações, da informática, da imprensa, da edição, da televisão, do cinema, dos jogos eletrônicos em uma indústria unificada da multimídia é o aspecto da revolução digital que tem sido mais enfatizado. Entretanto, esse não é o aspecto mais importante. A par dos aspectos civilizatórios, tais como novas estruturas de comunicação, de regulação e de cooperação, linguagens e técnicas intelectuais inéditas, modificação das relações de espaço e tempo etc., o mais importante está no fato de que a forma e o conteúdo do ciberespaço ainda estão especialmente indeterminados. Diante disso, não se trata mais de raciocinar em termos de impacto (qual o impacto das infovias na vida econômica, política, cultural, científica?), mas em termos de projetos.

A proposta de pesquisa que aqui se segue, insere-se dentro dessa perspectiva: estamos buscando raciocinar através de um projeto voltado para um tópico específico e especializado da revolução bio-cibernética que apresenta relevância para a área da comunicação.

O foco do projeto se dirige, em primeiro lugar, para a noção das redes de comunicação. Partimos da hipótese de que se trata de uma noção que não se faz entender à luz de uma visão estritamente tecnológica. Tanto é assim que o funcionamento das redes de comunicação apresenta semelhanças com o comportamento do sistema nervoso, do sistema imunológico, podendo ser simulado através de programas computacionais que estão no centro das preocupações dos cientistas de inteligência artificial. A compreensão desse funcionamento parece exigir, portanto, a interface e cooperação da pesquisa em comunicação com algumas disciplinas, tais como as ciências cognitivas, as ciências da informação, inteligência artificial e a biologia que, a despeito da especificidade de cada uma, estão lidando com questões que são, antes de tudo, questões comunicacionais. As ciências da comunicação tem, portanto, muito para dar e receber nesse convergência.

Assim sendo, o projeto aqui proposto, principalmente na parte de seus fundamentos, enquadra-se naquilo que Lucien Sfez (1994: 11) caracteriza como o núcleo epistemológico da comunicação ‘que reúne em torno de pontos comuns grande diversidade de saberes: biologia, psicanálise, mass media studies, instituições, direito, ciência das organizações, inteligência artificial, filosofia analítica etc. Esses conceitos comuns às ciências da comunicação parecem dever constituir pouco a pouco os elementos de uma forma simbólica em gestação’.

Essa mesma linha de argumentação foi utilizada por Eliseo Verón na apresentação da coleção de publicações na área de comunicação sob o título de ‘El mamífero parlante’ da editora Gedisa (Buenos Aires, Barcelona, México), por ele dirigida. Ao consagrar o ‘Mamífero parlante’ à difusão de teorias e investigações no campo das ciências da comunicação, Verón explica que ‘o plural ciências, frequentemente utilizado, expressa indiretamente a complexidade de tal campo. Não dizemos ciência da comunicação nem comunicologia, porque não se trata de uma disciplina, mas de um cruzamento de múltiplas problemáticas correspondentes a disciplinas tradicionalmente diferenciadas. As ciências da comunicação constituem hoje em dia um nó transdisciplinar, no campo das ciências brandas, comparável ao nó das ciências cognitivas, no território das ciências duras’. Em função disso, Verón justifica a presença na coleção de uma ótica antropológica aplicada às sociedades urbanas, de uma ótica epistemológica, semiótica, sociológica, histórica, cognitiva, política, todos esses modos pertinentes de acesso aos fenômenos da comunicação, em particular aqueles associados à emergência e funcionamento de tecnologias mediáticas.

O projeto aqui proposto insere-se em um nó transdisciplinar como foi nomeado por Verón, assim como visa à gestação da forma simbólica de que fala Sfez. Evidentemente não estaremos lidando com todas as disciplinas mencionadas por ambos, mas apenas com aquelas que contribuem mais diretamente para o encontro de respostas à questão comunicacional básica que o projeto interroga, como se verá a seguir.(...)

LEIA NA ÍNTEGRA EM : http://www.pucsp.br/~lbraga/fs_proj_fina.htm

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