segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Dialogismo e ciberespaço

LINGUAGEM: A NATUREZA DIALÓGICA NO ESPAÇO VIRTUAL


Joyce de Castro Sanchotene


RESUMO


O estudo descrito a seguir foi realizado por meio da observação e da análise da linguagem exercida em ambientes virtuais de comunicação com o objetivo de determinar alguns aspectos da interação em tais contextos. Os aportes teóricos foram encontrados em Bakthin, Faraco, Chartier e Silva, dentre outros. Entendendo a linguagem de forma dialógica e que, é na relação com os outros que nos constituímos, pretendeu-se, aqui, investigar de que maneira os internautas organizam sua interação, tanto em ambientes virtuais ou híbridos para que se possa registrar esses fatos historicamente com o objetivo de contribuir na investigação e constituição de formas pedagógicas a serem utilizadas em ambientes formais de educação.

Palavras-chave: Interação virtual. Ambiente. Linguagem. Educação.
1 INTRODUÇÃO

O presente artigo é resultado de uma reflexão embasada em conceitos de linguagem dialógicos e na observação e análise do efetivo exercício dessa linguagem em ambientes virtuais como sites, blogs e comunidades que fazem parte da Internet. Além disso, também foi observada a forma como se organizam as redes sociais, qual seu conteúdo e a que extrato social pertencem as pessoas que se habilitam a usar as ferramentas adequadas e participar da troca ciberespacial.
O acesso a computadores e à rede da Internet tem se ampliado significativamente nos últimos anos e estudos sobre o assunto tornam-se urgentemente necessários em curto espaço de tempo, para determinar o impacto das atividades realizadas em ambientes de interação social, principalmente em ambientes híbridos, sobre o processo formal de aprendizagem.
O conceito de linguagem aqui apresentado tem como pressuposto que esta é uma visão de mundo que busca as formas e instauração de sentido que passa pela abordagem lingüística e discursiva, pela semiótica da cultura, podendo ser definida como um conjunto de imagens entretecidas e ainda não de todo desveladas.
Para que se tenha uma idéia da importância da leitura, é importante citar Barthes e Compagnon apud Silva (2003).

Sabe-se que a leitura – o saber ler – foi, durante milênios, um operador brutal de discriminação social. A escrita-leitura (visto que uma não existe sem a outra) esteve, desde o início, ligada (com os escribas reais) às esferas do poder e da religião. Como padrão do tempo, da comunicação, da memória, do segredo, só podia ser um instrumento privilegiado do poder – ainda que este saber estivesse delegado numa casta de técnicos (escravos e clérigos) que dependia do poder. É por isso que a ‘alfabetização’ (ou difusão da escrita como técnica) sempre esteve ligada às lutas políticas e sociais da história.( Silva, 2003, p. 9)


Desta maneira, podemos dizer que, novamente, nos deparamos com outro operador de discriminação, o analfabetismo digital. Conforme Chartier (2002)

(...) quanto à ordem dos discursos, o mundo eletrônico provoca uma tríplice ruptura: propõe uma nova técnica de difusão da escrita, incita uma nova relação com os textos, impõe-lhes uma nova forma de inscrição. A originalidade e a importância da revolução digital apóiam-se no fato de obriga o leitor contemporâneo a abandonar todas as heranças que o plasmaram, já que o mundo eletrônico não mais utiliza a imprensa, ignora o ‘livro unitário’ e está alheio à materialidade do códex. É ao mesmo tempo uma revolução da modalidade técnica da produção do escrito, um a revolução da percepção das entidades textuais e uma revolução das estruturas e formas mais fundamentais dos suportes da cultura escrita. Daí a razão do desassossego dos leitores, que devem transformar seus hábitos e percepções, e a dificuldade para entender uma mutação que lança um profundo desafio a todas as categorias que costumamos manejar para descrever o mundo dos livros e da cultura escrita.( Chartier, 2002, p. 23-4)

Percebe-se, no momento atual, um temor das pessoas em relação à tecnologia, que os pegou desprevenidos, pois, além de não terem acesso e conhecimentos para usar, conforme o mínimo exigido dos profissionais hoje em dia, são facilmente passados para trás até por crianças que ainda não freqüentam a escola. Convivemos, também, com a tradicional falta de visão e decisão por parte das autoridades que, supostamente, deveriam cuidar do assunto.
De acordo com Brait (2001, p.77) “(...) a linguagem não é falada no vazio, mas numa situação histórica e social concreta no momento e no lugar da atualização do enunciado.” Isso significa que é necessário analisar a dimensão histórica e intersubjetiva do evento, pois, a dimensão é uma atualização do enunciado do ponto factual e semântico, ou seja, no momento de sua realização e não extraída após o acontecimento, apenas como uma forma gramatical seja ela palavra ou frase. Interessa-nos, na análise em questão, saber de que maneira tem sido feita na escola a formação do leitor do texto eletrônico, quais são as características da internet e do computador como suportes e produtores de textos, além da forma como são estruturados os textos digitais e de que forma se processa a interação com o leitor. Assim, foi feita uma análise documental e a observação de comunidades virtuais de estudos, discussões e de propagação de notícias, entre outros. Na verdade, tal idéia corrobora o pensamento de Bakthin, isto é, de que a perspectiva da semiótica das ideologias pode ser flagrada no intercurso social e nas manifestações de linguagem aí produzidas.

2 O DIALOGISMO NO CIBERESPAÇO

Entende-se que o sujeito nasce e é constituído como tal em um complexo caldo de heteroglossia e dialogização. Assim esse sujeito, no princípio, percebe a realidade lingüística como múltiplas vozes sociais que se realizam “em múltiplas relações dialógicas – relações de aceitação e recusa, de convergência e recusa, de convergência e divergência, de harmonia e de conflitos, de intersecções e hibridizações.” (Faraco, 2003, p. 80).
Bakthin define uma visão dialógica de mundo, ou seja, um diálogo entre existência e linguagem, entre mundo e mente, entre o que é dado e criado, que estão presentes nas discussões que faz sobre autoria, respondibilidade, mesmo e outro, mundo como experiência em ação, mundo como representação no discurso. Esses aspectos serão apresentados como conclusão deste trabalho, após a análise e estudo das comunidades virtuais de acordo com os pressupostos descritos acima. É interessante relembrar que em muitos lugares do mundo a alfabetização tradicional, que usa suportes mais simples do que os tecnológicos, ainda não chegou a resultados satisfatórios. Os suportes tecnológicos são, também, considerados intelectuais, já que promovem a experiência e a atribuição conceitual aos elementos utilizados.
Os estudos sobre questões de linguagem e de leitura, na formação de professores, perante a força de modelos discursivos não científicos, os quais orientam o ensino da língua no Brasil, bem como dos preconceitos lingüísticos e, por extensão, pedagógicos que são postos em todos os setores da sociedade, podem, também, ser equiparados à problemática da alfabetização digital com a qual a sociedade se depara neste momento. Considerando-se a função mediadora da tecnologia no processo de aprendizagem, torna-se primordial a discussão dos vários pressupostos teóricos relacionados a essa nova linguagem e não simplesmente a sua utilização como ferramenta. Por outro lado, são as crianças que dominam o assunto e conhecem todas as possibilidades do ambiente multimídia, dominando a sua utilização. Praticam várias experiências no ciberespaço, como, por exemplo, a formação e a participação em comunidades sociais que, por sua vez, pressupõem padrões, costumes e códigos sociais partilhados no ambiente.
Silva (2003) salienta:

É importante destacar que a tecnologia propriamente dita presente na Internet não é questionada pelas crianças enquanto aparato técnico, pois ela adquiriu uma determinada transparência que lhes permite lidar com pessoas, informações, jogos, serviços, aplicações e amigos. Por isso, é necessário considerar as implicações trazidas pela sua utilização sobre a percepção da realidade social, isto é, ao nos conectarmos com as informações por meio da Internet, estão ocorrendo mudanças externas, mas também internas. É fundamental reconhecer que o computador tornou-se um novo ambiente cognitivo.(Silva, 2003, p. 110)


Muitas são as considerações e estudos que se fazem necessários sobre os objetos informáticos, já que esses são imateriais e de existências virtuais, além de potencialmente interativos e, por tais motivos, são bem adaptados a uma pedagogia ativa.
Ainda sobre os ambientes interativos virtuais, é possível citar vários grupos de estudo e troca de experiências como, por exemplo, o Blogs Educativos, comunidades diversas formadas e interligadas por temas de estudo em várias áreas do conhecimento como o edudemocratica-Grupos, ou de interesse por notícias como o dHitt, redes de relacionamento como Orkut, Plaxo e muito mais.(...)

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