Uma das minhas mais gratificantes experiências usufruídas do contato com os movimentos populares foi o acompanhamento das lutas das populações de atingidos por barragens, formado por grupos sociais que em comum, compartilham problemas e transtornos promovidos pela construção dos projetos hidrelétricos.
Explicitamente, a construção de hidrelétricas constitui um notório problema socioambiental que agrava as condições de vida de amplos segmentos da população brasileira, particularmente dos que não compartilham das benesses oferecidas pelo modelo de sociedade em vigor no país.
Neste sentido, recordo-me da exposição dos problemas enfrentados por estes grupos arrolados por interlocutores diretos desta problemática, conhecimento que obtive da fala simples de lideranças de agricultores e ribeirinhos do interior do Brasil.
Todos eram unânimes em denunciar um aparato de Estado que ainda hoje os entende como um "estorvo" para o desenvolvimento. Não haveria como negar, o modo de vida afluente de muitos grupos urbanos apenas se perpetua e reproduz com o comprometimento e o desmantelamento de modos tradicionais de vida, muitas vezes para sempre.
Paralelamente, a determinação dos atingidos em perpetuar um modo tradicional de vida era a toda prova. Por intermédio desta via de entendimento se tornaram uns dos primeiros movimentos sociais a compreender que o ambientalismo constituía uma argumentação poderosa para reforçar suas reivindicações. Justamente esta nuança justificou sua aproximação com os chamados ecologistas sociais, abrindo portas para que assim eu travasse contato com este notável movimento social brasileiro.
Foi neste contexto que em 1990 o antropólogo Aurélio Vianna, um especialista em grupos camponeses, convidou-me para redigir texto visando subsidiar e capacitar o Movimento Nacional de Atingidos por Barragens. Desta forma, elaborei Ecologia e Movimentos Sociais: Breve Fundamentação, material que busca com palavras simples discutir algumas concepções relacionadas com a questão ambiental, elaborado para um grupo cujas mobilizações sempre foram, aliás, objetivamente ambientalistas.
Para minha satisfação, o material terminou intensamente discutido nos mais diversos encontros e seminários dos atingidos por barragens, animando uma mobilização da qual sou orgulhosamente um apoiador.
O texto Ecologia e Movimentos Sociais: Breve Fundamentação foi publicado na Coletânea Hidrelétricas, Ecologia e Progresso - Contribuições para um Debate, uma edição do Centro Ecumênico de Documentação e Informação (Rio de Janeiro, 1990), encontrando-se à disposição de todo interessado.
FONTE : http://www.mw.pro.br/mw/mw.php?p=eco_ecologia_e_movimentos_sociais&c=e
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